sexta-feira, outubro 12, 2007

Engrenagens


Se eu soubesse da vida mais do que sei, se em toda ação cometida houvesse uma certeza ao invés de um talvez, quem sabe eu não saberia de qualquer outra opção, quem sabe seria incapaz de dar a partida todo e inevitável dia nas engrenagens do meu coração.

Porque certas pessoas batem no peito esperando escutar ecos de perfeição, pessoas que não acreditam na noção simples do mistério, dos pequenos deslizes, que arranham as portas e jogam areia nos cabelos esperando transformar seus pensamentos em deserto, as dunas finas do esquecimento que se movem escondendo tudo por perto.

Até que não se lembrem precisamente do que estão chorando, até que não precisem nitidamente o desencanto que as dominou, somente os limites do certo e do errado que seu próprio medo demarcou.

Mas a gente aprende as armadilhas, a gente escapa das arapucas escondidas não com o que se esqueceu, não fugimos de nossas vidas simplesmente enterrando o que se perdeu, porque mesmo se mantendo na surdina não significa que o significado das palavras antes ditas desapareceu.

O que quero nessa vida, seja a cura da dor ou o retorno da inocência perdida, tudo isso ainda é meu, seja como for, porque ainda quero em dias quentes água fria, ainda desejo em noites geladas, meu café quente e um cobertor.

Não preciso esconder o que quero, nem preciso reafirmar todo dia aquilo que sou

Porque sei que carregada de erros e defeitos, também eu sou amor.